O barco antes repousado na beira da praia Descansando o peito atracado nas garras da areia,
Sai correndo a caminho das águas do mar.
Enfrenta ainda, insaciáveis, as ondas que
De longe desejam vorazes engoli-lo com seus braços.
A areia leve e branca caminha apagando suas pegadas;
Ventania que carrega o vento e as lembranças,
Enche do vazio as velas, aproam o olhar para o horizonte,
Empurrando o barco rumo à imensidão do mar.
E lá vai ele, desaparecendo, cruzando o limite dos olhos.
De repente, se perde. Ou talvez se encontre seguro.
Vai o mais longe, e quisera eu que levasse consigo toda a dor
Para então lançá-la onde não possa voltar, onde ela naufrague e se afogue.
Sou bem como aquele barco e a vida é o mar
Sol a sol tocando o barco para frente.
Já a praia é onde se ancoram as dores
E, por mais profundo que tentes enterrá-las,
As ondas e os ventos tratarão de deixá-las à vista.
O barco vai, e vai nem sei para onde,
Talvez até sem prumo, fugindo.
Todavia as águas, como o chão dessa estrada,
Cuidam logo de ensiná-lo a entender
Que, mesmo por mais longe que ele vá,
Sempre o trarão de volta ao anoitecer.