Dedico este Blog a minha maior inspiração, Juliana Peixoto.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

PERDIDO PELO TEMPO

Quantos meses de julho passei ensaiando,
Com meus passos desafinados, o caminhar suave?
Quantos penosos caminhos percorri
Até encontrar o que me levou a você?
Quantas bocas amargas provei
Até me deliciar com o sabor da sua?
Quanto silêncio havia em mim
Até sua voz me atingir a alma?
Quantas noites perdi a hora,
Tendo na insônia a imagem de companheira,
Para agora deitar mais cedo a fim de sonhar contigo?
Ah, tanto foi o tempo em que vivi perdido na vida
Até hoje me encontrar amando.
Tempo em que não sei se realmente estava vivo
E, hoje, só pensar em você já é viver.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O BARCO E O MAR


O barco antes repousado na beira da praia
Descansando o peito atracado nas garras da areia,
Sai correndo a caminho das águas do mar.
Enfrenta ainda, insaciáveis, as ondas que
De longe desejam vorazes engoli-lo com seus braços.
A areia leve e branca caminha apagando suas pegadas;
Ventania que carrega o vento e as lembranças,
Enche do vazio as velas, aproam o olhar para o horizonte,
Empurrando o barco rumo à imensidão do mar.

E lá vai ele, desaparecendo, cruzando o limite dos olhos.
De repente, se perde. Ou talvez se encontre seguro.
Vai o mais longe, e quisera eu que levasse consigo toda a dor
Para então lançá-la onde não possa voltar, onde ela naufrague e se afogue.

Sou bem como aquele barco e a vida é o mar
Sol a sol tocando o barco para frente.
Já a praia é onde se ancoram as dores
E, por mais profundo que tentes enterrá-las,
As ondas e os ventos tratarão de deixá-las à vista.

O barco vai, e vai nem sei para onde,
Talvez até sem prumo, fugindo.
Todavia as águas, como o chão dessa estrada,
Cuidam logo de ensiná-lo a entender
Que, mesmo por mais longe que ele vá,
Sempre o trarão de volta ao anoitecer.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

NALGUM LUGAR

*Do poeta e.e. cummings

Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

CHOVE


Diante toda a frieza da noite
Chora a brancura úmida do céu
Que cobre o rosto da lua como um véu.
Suas lágrimas despencam aos montes
E do meu quarto sinto o cheiro de chuva.

Eu até tento prender a respiração
Para sufocar essa saudade dentro de mim
Que vai me deixando mais distante
Porém solto todo ar de uma só vez
E me espalho no chão gelado. Tonto.
Pareço em alto-mar, no balançar interminável
De uma embarcação qualquer. Ébrio.
Fugindo por salgados caminhos,
Navego sem rumo e sem pressa
Na enchente que inundam os olhos.
Deixo-me ir como tantas vezes sem palavras
Em pálidos papéis com esta mão desesperada
Por soletrar tudo que agora se resume ao teu nome.

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Poesia extraída do livro "Além da Estrada" de Carlos Eduardo Mélo, Editora Bagaço - Recife, 2007, pág. 105