Fecha-se minha primeira e única porta.
De fato, onde se inicia a vida?
Não me cabe responder, não me cabe nada.
Nunca tive amigos, nunca vi a luz.
Aqui as janelas não se abrem
Os fios sangüíneos me sufocam,
Flutuo num vazio que não é meu, sem chão nem teto.
A dor é tão grande, mas ainda nem sei senti-la.
Sinto uma saudade do que ainda nem é.
A infância seqüestrada, o carinho arrancado.
E assim sem mais sou castigado
Mas por quê? Não tenho culpa de nada
Ainda nem tive tempo de ser culpado de algo.
Aqui é tudo tão escuro, sinto-me tão indefeso.
Não encontro as chaves, não encontro nada.
Sigo desamparado, um menor abandonado.
Sem os primeiros passos, sem festas de aniversário.
Lá fora, nada me espera. Acho que nem existo.
A vida me tem como fardo, sem valor.
Um filho mais que indesejado
E, mesmo sem lar, prestes a ser despejado.
Fruto de um pecado, agora me rotulam ser ele próprio.
Mas o que sou, de fato? Será que já sou alguém?
Talvez um feto sem qualquer afeto.
Prisioneiro de um ventre, amordaçado pelo tempo.
Sem escolha ou saída, exilado da vida.
Eu que sempre quis ver o mar, sentir o cheiro do ar
E tocar a cor do viver. Viver.
Não passo de um erro, uma fatalidade.
Talvez uma criança já sem esperanças
Sem nome ou cobertas, sem mãe, sem ninguém.
E quem vai lembrar de mim?
Fraco ser que não pôde ser
Abortaram meus sonhos,
O que será então?
E a fé, alguém a viu? Alguém a viu?
(Silêncio) Acho que nem mais existe.
Serei a origem da vida que não vive
Como uma linda flor que não se abriu.
Poesia extraída do livro "Além da Estrada" de Carlos Eduardo Mélo, Editora Bagaço - Recife, 2007, pág. 124
3 comentários:
triste realidade.
Você é um poeta nato...lindíssima...Parabéns!
bjs
quando quiser ver as minhas
amor.criarumblog.com
Obrigado pelo elogio. Fico feliz.
Será um prazer visitar suas palavras.
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