Nas mãos, um mundo alvo de vários horizontes
E crepúsculos insaturáveis
Aguardando meus traços urgentes e caligráficos
A modelar, em versos, tudo que se nasce por dentro.
Numa chuva sápida goteante de letras desatinadas,
Átomos sedentos por poesia, moléculas poéticas,
A empoçar sábios vocábulos nessas ruas sem cruzamentos
Regando cada trecho deste solo fecundo e extenso.
Assim, vogais e consoantes se abraçam e ganham vida,
Brotando livres. Pronunciavelmente majestosas.
Inauguram as primeiras linhas do raciocínio
Prosopopeisando aquilo engendrado em modesto devaneio.
Assim, palavras e mais palavras se casam
Num matrimônio fraseológico indivorciável,
Enraizando-se ao chão pálido e liso das páginas
Que o tempo logo deixará velho e amarelado.
As rasuras também existem, buscam sempre a perfeição,
Uma perfeição que não existe, mas me ilude
Seja num novo adjetivo ou num novo advérbio. O que for.
As palavras devem estar em completa harmonia,
Uma afinação limpa para o tom desejado.
E, entre tais palavras, espaços serenos
Escondem o arrepio e o desespero da noite,
Correndo o risco de manchas com lágrimas de meus ais.
Mas com fácil risco, vou craseando alguns "as",
Respirando vírgulas e pontos ofegantes
Como verdadeiros pulmões das estrofes.
Sendo assim, eu sou apenas um indício de vida,
Pois minh'alma se dissolve em palavras
E no silêncio de cada entrelinha
Permanece em segredo, junto à parte de mim,
As noites em que perdi o sono
Tendo no pensamento o vício.
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Poesia extraída do livro "Além da Estrada" de Carlos Eduardo Mélo, Editora Bagaço - Recife, 2007, pág. 120
8 comentários:
Dois livros e um blog, meu vei. Quando eu crescer quero escrever que nem você.
Grande abraço.
O cara tem o dom! fazer o que?
vamos lá, vou analisar cada parágrafo:
1°: Como introdução, bom, porém (eu posso ter entendido errado, e se caso for me corriga) mas, Crepúsculos insaturáveis, seriam crepúsculos, que não "fecham" no caso "findam", o que passa o sentido de tempo, então fica de certo modo contraditório o termo: urgentes, porque se não finda não há necessidade de tal urgência.
Urgentes esse, que não combina com caligráficos. Já que caligráficos, vem de Caligrafia: kalli, significando beleza, e grafia, a escrita. Então caligrafia é a arte da escrita bela. E numa opinião particular, na Urgência, você não chega a "beleza".
2° ótimo começou muito bem, Sápida, excelente adorei, até porque eu não sabia o que significava (nem o meu dicionário..kkk) e adoro poemas (textos em geral) que me fazem conhecer palavras novas...adorei. O fraseológico ficou desnecessário, não atrapalha, mas digamos...força, você sabe escrever (muito bem) não precisa provar que sabe...ok...E por fim, talvez já tenha sido essa a sua intenção. Então fica a opinião particular, como eu disse adorei o início do parágrafo:
"Numa chuva sápida goteante de letras desatinadas,
Átomos sedentos por poesia, moléculas poéticas".
Passa beleza, e até certo ponto esperança, porém em contrapartida o fim é melancolico:
"Enraizando-se ao chão pálido e liso das páginas
Que o tempo logo deixará velho e amarelado".
Se é essa a intenção, ótimo parabéns, fica apenas a minha opinião particular (não gosto desse contraste).
3° bom, muito bom...Mais uma vez o início, irretocável, até a palavra advérbio, excelente. Agora vê:
"As palavras devem estar em completa harmonia". Gostei..
"E, entre tais palavras, espaços serenos". Justo...
"Escondem o arrepio e o desespero da noite".
Vou me ater a esse "desespero da noite"...ok (não esquece).
pausa para o café...kkkk
4° parágrafo: finalizou bem, não posso (infelizmente) dizer que não tem sentido (kkkk), agora, estrelinha...hum...perde um pouco de "credibilidade" mas tá valendo.
Por fim, lembra do desespero ? Fica a questão, que desespero é esse ? Em nenhum momento à poesia, demonstra desespero (eu não percebi), então ficou um pouco fora de lugar, acho que você poderia colocar algum sinônimo de Melancolia e até certo ponto, inquietude, ao invés de desespero. Mais uma vez, é só uma opinião particular, já que o poeta aqui é você, que por sinal tem futuro...kkkk, Namoral, bem legal mesmo...
Vê ai no meu blog (o mais novo) o que é uma poesia de verdade...(brincadeira)...agora se tu comentar: "pô legal, ficou massa, parabéns, etc" eu mas nunca mais venho no teu blog (isso não é brincadeira)....
agora falando sério, parabéns cara, espero ter ajudado, ou pelo menos enchido o saco....kkkkkk.....FUI !!!!
Eu juro que ia ler até o fim o comentario de Moacir, mas não terminei... Se alguem terminar me diz como é o fim. Parei na pausa pra o café ;)
Gostei da análise, apesar de alguns equívocos. Vamos lá:
1) Falo da linha do caderno como se fosse o horizonte ao amanhecer. O "urgente" não tem nada a ver com o crepúsculo, mas sim com os traços (a escrita). A urgência em escrever.
Completando: A urgência eh pela vontade de colocar os traços no papel.. e o caligráfico da história é pq não se trata de qualquer traço (ou rabisco), porém um traço que precisa ser mais bem modelado (a escrita). Não significa q escrevi na pressa, com velocidade; o que quis dizer foi que tive pressa em COMEÇAR a escrever.
2)Sápido: que tem sabor, saboroso, gostoso.
Bem, acho q vc não percebeu a sequência: letras (vogais e consoantes) - palavras - frase (FRASEOLÓGICO: do ato de construir a frase, aqui é o verso). Portanto, perdão, mas não acho esta palavra desnecessária.
Ao que se refere à melancolia, no fim desta estrofe, foi algo muito leve, pois acredito que apenas CITEI o envelhecimento do papel (último verso, e só). Não sei vc, mas vejo beleza neste processo. Quanto a isso é muito pessoal, tudo bem.
3)DESESPERO. Caro Moacir, vc não deveria entender nada ao pé da letra.
4)ENTRELINHA: espaço entre 2 linhas. Há uma magia, um mistério entre um verso e outro. Nem tudo está escrito de fato. Há coisas que vc precisa perceber, descobrir. Além do mais, a ENTRELINHA é mais um componente deste caderno, não poderia nunca ser esquecida. Posso até dizer q ela vale tanto quanto a parte escrita. É onde se oculta a ALMA de quem escreve.
Finalizando) Ah, o DESESPERO. A poesia não precisa absorver completamente meu desespero ou aflição acontecida durante tal noite (ou tais noites, enfim). É aí que entram as lacunas espalhadas pela poesia. Entre uma palavra e outra pode esconder um sorriso, uma lágrima, um respirar fundo, uma apnéia, etc. Na poesia, citei apenas o arrepio (de medo) e o desespero (aquela aflição em desabafar o que sentia em palavras).
No mais, gostei da análise como um todo. Espero ter tirado suas dúvidas. Abração (E depois passo lá pra ver a poesia, tenho q terminar o trabalho de Comunicação Dirigida).
opa blz, Cadoquivél...
1°: explicado, perfeito...e compreendido..ok..por sinal muito bem..
2°: eu já sabia o que era Sápido (pesquisei) mas mesmo assim valeu por dizer. FRASEOLÓGICO: se retirar fraseológico do verso, não muda muita coisa...Você não é um parnasiano ou um engenheiro da palavra (se for eu retiro o que disse) então acho que o termo se torna desnecessário. Sobre a Melancolia como você disse, é algo pessoal, eu entendo e não interfere em nada.
Entrelinha, se você ler meu comentário (1°) verá que eu li e entendi errado, então desculpa, foi erro meu.
É difícil (pelo menos para mim) não entender, Desespero como algo forte e contudente, mas tudo bem, vou aceitar como algo pessoal.
Beleza... Valeu ter respondido..
PS: só para não deixar de ser "chato":
"mais palavras se casam
Num matrimônio".
Não é redundância ??
quantas críticas,hein?
algumas precisam ter mais conhecimento do assunto "poesia".É preciso ir além..
Mermão... Cadê o comentario que Cadu ia fazer pra mim? ¬¬
Huahusdhaushdusahdasa
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