Dedico este Blog a minha maior inspiração, Juliana Peixoto.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O CADAFALSO E O HERÓI

Atadas as mãos, caminhei na direção do sol
Com o pescoço disposto à forca.
Vi o horizonte do alto do tablado
E, dum segundo inevitável, o passo em falso.

Eis que o chão se abriu abaixo dos meus pés
E, num abismo interno, flutuei.
Por mais que quisesse em desespero tocar o solo
Era tarde para alcançá-lo.

Relutei com bravura pelo não-anoitecer dos meus olhos
Contudo, do meu grito silenciado, fez-se a solidão
Sendo, o sufocar da corda, o único abraço a me envolver.

Decerto não era o conforto que queria, mas o restante que eu tinha.
Minha coragem se encolheu de medo,
Da minha força se fez o cansaço
E de toda minha agonia revelou-se o sereno.

Fui, então, tomado pouco a pouco pela sensação de ganhar asas
E voei.
Bati minhas asas na maior urgência dali.

Lembro-me bem da última coisa que vi daquele cadafalso:
Eu, cada vez mais alto,
Ganhando as nuvens, subindo, subindo e subindo
E subitamente morri sorrindo.

2 comentários:

Breno Peres disse...

Viva a morte. Viva a volta de um grande poeta!

Forte abraço.

Anônimo disse...

Nossa, mto bom esse poema. Perder o chão pode ser desesperador, perder a estrutura, o alicerce, perder o brilho nos olhos. Porém, às vezes a renovação, a revolução só é possível com o distanciamento que os voos nos proporcionam.