Atadas as mãos, caminhei na direção do sol
Com o pescoço disposto à forca.
Vi o horizonte do alto do tablado
E, dum segundo inevitável, o passo em falso.
Eis que o chão se abriu abaixo dos meus pés
E, num abismo interno, flutuei.
Por mais que quisesse em desespero tocar o solo
Era tarde para alcançá-lo.
Relutei com bravura pelo não-anoitecer dos meus olhos
Contudo, do meu grito silenciado, fez-se a solidão
Sendo, o sufocar da corda, o único abraço a me envolver.
Decerto não era o conforto que queria, mas o restante que eu tinha.
Minha coragem se encolheu de medo,
Da minha força se fez o cansaço
E de toda minha agonia revelou-se o sereno.
Fui, então, tomado pouco a pouco pela sensação de ganhar asas
E voei.
Bati minhas asas na maior urgência dali.
Lembro-me bem da última coisa que vi daquele cadafalso:
Eu, cada vez mais alto,
Ganhando as nuvens, subindo, subindo e subindo
E subitamente morri sorrindo.
2 comentários:
Viva a morte. Viva a volta de um grande poeta!
Forte abraço.
Nossa, mto bom esse poema. Perder o chão pode ser desesperador, perder a estrutura, o alicerce, perder o brilho nos olhos. Porém, às vezes a renovação, a revolução só é possível com o distanciamento que os voos nos proporcionam.
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